sexta-feira, 29 de março de 2013

Geografia na poesia (Itabira)

Poema de Carlos Drummond de Andrade fala da Itabira que permanece dentro dele... Mesmo distante, o estrangeiro carrega consigo o hábito da sua cidade.


CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Durval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público. 
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Vista de Itabira, na década de 1960. Autor desconhecido.

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