Sequência de a "invenção" do Brasil
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Peça comemorativa dos 400 anos do descobrimento
do Brasil, fábrica de Alcântara, Portugal.
Disponível em <http://memoriadosdescobrimentosnaceramica.blogspot.com.br> Acesso em 24 fev 2013.
ERRO DE PORTUGUÊS
Oswald de Andrade
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
O MEIO NATURAL
por Milton Santos
Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza
aquelas suas partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida,
valorizando, diferentemente, segundo os lugares e as culturas, essas condições
naturais que constituíam a base material da existência do grupo.
Esse meio natural generalizado era utilizado pelo homem sem
grandes transformações. As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas da
natureza, com a qual se relacionavam sem outra mediação.
O que alguns consideram como período pré-técnico exclui uma
definição restritiva. As transformações impostas às coisas naturais já eram
técnicas, entre as quais a domesticação de plantas e animais aparece como um
momento marcante: o homem mudando a Natureza, impondo-lhe leis. A isso também
se chama técnica.
Nesse período, os sistemas técnicos não tinham existência
autônoma. Sua simbiose com a natureza resultante era total (G. Berger, 1964, p.
231; P. George, 1974, pp. 24 e 26) e podemos dizer, talvez, que o possibilismo
da criação mergulhava no determinismo do funcionamento. As motivações de
uso eram, sobretudo, locais, ainda que o papel do intercâmbio nas determinações
sociais pudesse ser crescente. Assim, a sociedade local era, ao mesmo tempo,
criadora das técnicas utilizadas, comandante dos tempos sociais e dos limites
de sua utilização.
A harmonia socioespacial assim estabelecida era, desse modo,
respeitosa da natureza herdada, no processo de criação de uma nova natureza.
Produzindo-a, a sociedade territorial produzia, também, uma série de comportamentos,
cuja razão é a preservação e a continuidade do meio de vida. Exemplo disso são,
entre outros, o pousio, a rotação de terras, a agricultura itinerante, que
constituem, ao mesmo tempo, regras sociais e regras territoriais, tendentes a
conciliar o uso e a "conservação" da natureza: para que ela possa
ser, outra vez, utilizada.
Esses sistemas técnicos sem objetos técnicos não eram, pois,
agressivos, pelo fato de serem indissolúveis em relação à Natureza que, em sua
operação, ajudavam a reconstituir.
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